quarta-feira, 28 de abril de 2010

20102010102010212011

Dois mil e dez é um número vistoso. Um número gordo, salta aos olhos e dá gosto de ler. Ostenta a metricidade de um soneto parnasiano e o minimalismo da arte moderna. Sincroniza os dois menores números naturais positivos – e o nullum – altercados em uma sequência ad alea mais enigmática que a de fibonacci, digna de Códigos da Vinci e signos perdidos.

Como um elemento na misteriosa análise combinatória que rege o universo, tenho 20 anos em 2010. Em 10/10/2010, farei 21 anos. 2010 20 10/10/10 21 2011.

domingo, 11 de abril de 2010

Orto Graphia

Não mais argüo minhas idéias. Arguo ditongos crescentes desacentuados. Testo o texto e o contexto, minha única forma de apoio, pois não mais apóio contra-sensos. Contranceno com “apôios” e “apóios”, fundo-os e confundo-os sem sabê-los pronunciar.

Rebaixo o heroico e o epopeico, pois o Épico não mais é digno de minha acentuação.
Diferencio preconceitos de pré-conceitos, questões prejudiciais de pré-judiciais, reconhecendo sua independência semântica, de forma quase romântica.

Com enjoo, desacentuo hiatos duplicados e faço estranhos prolongamentos vocálicos, como se estes fossem substituir o circunflexo dos que leem mas não crêem, releem e não vêem. Não perdoo, vou contra as regras porque contrarregra já é demais. E desarmado observo a não-auto-aplicabilidade de minha lingua se transformar em autoaplicação.

Mas diante de tanto autoritarismo, negando às palavras sua própria auto-determinação, aproximo-as. Autoaplico, extrarregulo, macrossistematizo. Des-hifenizo e avizinho nossas palavras, da mesma forma que aproximo brasileiros, portugueses, angolanos, e os outros lusófonos. Tudo em uma folha de papel ou em uma página virtual do blogger.


Devo dizer, antepositivo sem hífen é show!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Amor Verdadeiro

busco um amor verdadeiro
mas não tenho ideia do que é isso
me disseram que saberei quando encontrar uma pessoa especial
mas, afinal, o que é uma pessoa especial?


para mim especial é sem picles e sem cebola.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O tímido

O tímido vê o mundo, mas o mundo nem sempre vê o tímido, minúsculo, silencioso, discreto. Zeloso, observa seus pares - e somente observa - com olhos sedentos de um aprendiz natural. Se engana quem diz que o tímido não atenta para suas cercanias, ele o faz, com a clareza e percepção de quem acompanhou os desenrolares desde suas primícias, sem, no entanto, adicionar ou subtrair nada a equação final.

O tímido se apega ao momento, na verdade, agarra-o como sua única salvação. Reflete, cogita, medita, calcula, é prudente e sensato, calcula novamente, e quando finalmente chega a uma conclusão, o momento já é pretérito mais que perfeito.

O tímido participa com os cinco sentidos. Seus olhos acompanham o embate de paixões. Seus ouvidos ouvem as palavras como escutam as melodias de Chopin. Enquanto fareja, investiga e racionaliza cada momento, saboreia e digere seus pensamentos, e por fim tateia as respostas dentro do turbilhão de suas próprias paixões.

O tímido vive sozinho em meio a uma multidão, no sossego de seus pensamentos. Não há lugar mais privado que seu introspecto. Ele se preocupa com a impressão que causa, prefere não causar impressão alguma a causar uma que o denigra. Não expõe ou emposta, mas faz um juízo hipotético de como seria se o fizesse. Seria o juiz por excelência se falasse. Assimila, avalia, pondera. Mas o tímido não expõe seu julgado, por isso se cala, se resigna, anui.

O tímido teme, prefere permanecer incontradito.

A verdade é que ele é o senhor de suas paixões, discorda, retruca, objeta, assente, aprova - tudo na privacidade de sua mente - e enquanto aguarda, se guarda; enquanto espera, se desespera. O tímido sofre sempre que perde uma oportunidade ou abre mão de uma convicção, se flagela, açoita, definha. O preço que paga por ser tímido é a impotência de saber que a cada dia morre lentamente.

In Judicio

People's oppening statement: murder weapon, forensic, crime scene, motive.
Defense's oppening statement: inocence.
Prosecution call expert witness, Oath, Cross-examing.
          Evidence nº 1.
          Evidence nº 2. Objection, police malpractice. Allowed, Overruled.
          Defendant's historic. Objection, character evidence. Sustained
                                          Objection, prior convictions inadmissable. Allowed, Overruled.
          Motive.
          Testimony. Objection, Speculation. Allowed, overruled.
                            No further questions.
Defense's cross-exam:
          Evidence nº 2 obtained by cohersion. Objected, sustained.
          Circumstantial.
                            Nothing futher.
Prosecution call crime witness, Oath, Cross-examing.
          Testimony. Objection, hearsay. Allowed, overruled.
                            No more quetions.
Defense's cross-exam:
          Motivation.
          Prior relationship with the defendant
          Revenge. Objection. Withdrawned.
Prosecution closing arguments:  guilt corroborated by witness and proof.
Defendant's closing arguments:  circumstantial case. Reasonable doubt.
                  Deliberation. Jury's veredict:
                                                                                   Not-guilty
Ajourned.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Antipositivismo

Estivera eu na cúpula militar quando sopravam os ventos republicanos de 1889, aos ordeiros e progressistas protestaria:

"E o amor, onde fica?"

Comte ficaria decepcionado.

sábado, 3 de abril de 2010

Pospositivo

Suponho que o primeiro post deva ser uma metalinguagem, a autoexplicação deste blogue que, se não evidente, deve ser evidenciada. Em plena Semana Santa, entre as datas que comemoramos os atos da solene ação litúrgica e a ressureição de Cristo, vivemos a celebração de um dos eventos mais importantes do cristianismo, a Páscoa. Não querendo entrar no mérito dos métodos divinos (mas já entrando), se quisera Deus provar seu amor e misericórdia pela humanidade, não teria bastado o perdão de todos os pecados em vez do sacrifício do seu próprio filho em nome dos pecados da humanidade e sua posterior ressurreição? Ou, em vez de expulsar Adão e Eva do Paraíso e criar um dilúvio devastador; expurgar o pecado original do ser humano?

Hemos de convir que pouparia muito trabalho à longo prazo, mas Deus age de formas misteriosas.
Não é uma prerrogativa somente dos moles e vagarosos de protelar o que pode ser protelável; também é, dos trabalhadores e trabalhadeiros, dos artífices e dos laboreiros. Nem todos acordam dispostos a arrumar a cama assim que acordam, partem direto para seus ofícios; nem todos estão dispostos a lavar suas louças assim que comem, lançam-se de volta às suas atividades. Não o fazem com o ânimo negligente de deixar visíveis seus rastros, mas com a consciência limpa de que posposta esta tarefa, mais tarde ela ainda será feita, ou contornada.

Me dou ao direito de protelar o anteposto. Paradoxal?